Ainda muito jovem ele se apaixonou pelo circo e levou isso muito mais a sério do que possa parecer. Sim, com nariz de palhaço e muita maquiagem, Marcos Casuo tornou uma coisa que faz a maioria das pessoas cair no riso em sua profissão: ser um palhaço! Responsável por gargalhadas de platéias do mundo inteiro que já assistiram seus espetáculos, ele é o Mr. Clown, o palhaço do espetáculo Alegría do Cirque du Soleil.
A gigantesca dimensão que ganhou em sua carreira não foi à toa e nem veio por acaso. Desde muito novo, Casuo aposta na profissionalização, na melhora constante e nunca deixou o otimismo de lado. "Eu sou muito otimista com as minhas coisas, eu acredito muito no que eu posso fazer e acho que por isso consigo realizar meus sonhos", afirma. Depois de oito anos fora do Brasil, ele resolveu deixar o Cirque du Soleil, voltar para o seu país e realizar projetos próprios - criar a sua escola e um grupo, que vai integrar o seu circo! Em entrevista exclusiva ao Jornal Carreira & Sucesso, Casuo, ou Mr. Clown, conta um pouco da sua trajetória no circo, as lições que traz do picadeiro e como evoluiu e de que forma conquistou um espaço tão importante numa estrutura circense: ser o palhaço. Não perca!
Jornal Carreira & Sucesso: Conte um pouco da sua história. Como foi parar no circo? Marcos Casuo: Comecei praticando capoeira, sempre assisti Pica-pau, Giraia, Power Rangers e as acrobacias sempre me chamavam muito a atenção, então acabei entrando na capoeira para aprender acrobacias. Na época das Olimpíadas eu não perdia uma apresentação, principalmente as de ginástica solo, que tem muitas acrobacias. Então, por causa da capoeira, acabei aprendendo a saltar, mas saltava igual a um sapinho, não tinha muita técnica e postura. Aí descobri o "breakdance", que também mexia um pouco com o corpo, com acrobacias e muitos giros. Com isso encontrei a dança - fiz um pouquinho de jazz, de balet, de dança contemporânea. Nesse período assisti a um espetáculo do Grande Circo Popular do Brasil que estava em São Carlos e me apaixonei. Quando voltei para a ginástica olímpica para praticar, um grupo de jovens do circo que era responsável pela acrobacia visitou o ginásio onde eu treinava e pediu para que o meu treinador indicasse alguém para participar do elenco e ele me indicou de cara. Então me convidaram, aí eu brincando disse "mas só se eu for embora com o circo". Assisti ao espetáculo pela segunda vez e foi quando, realmente, me apaixonei pelo circo. Comecei a prestar mais atenção no grupo, que era um verdadeiro time. Conheci o grupo, que se chamava, na época, "Tá no ar" e depois de alguns anos comecei a dirigir, coreografar e acabei tomando a frente da equipe. O "dá a mão", "levanta" ou "a gente te segura se você for cair" foi o que mais me chamou a atenção dentro do circo.
Jornal Carreira & Sucesso: Como e quando você entrou para o Cirque du Soleil? Marcos Casuo: O Cirque no início da minha carreira era algo impossível. Porque eu nunca tinha me visto trabalhando no Cirque du Soleil, a melhor companhia de entretenimento pra mim era o Grande Circo Popular do Brasil ou qualquer outro circo que eu pudesse ingressar. Mas eu sou uma pessoa que quanto maior o desafio, mais eu tenho prazer em querer fazer, então, depois de alguns anos que eu estava no circo, tinha viajado o Brasil todo, o Marcos Frota dizia pra mim que eu estava pronto, mas eu achava que não. Eu assistia aos dvds de espetáculos, via tudo pronto, editado, e tinha na minha cabeça que era tudo perfeito, que eles não erravam, eu achava que eu nunca ia conseguir chegar naquele nível. Eu até já tinha recebido convite para fazer o teste, mas neguei, por acreditar que ia pagar um mico, afinal as pessoas que fazem a audição são "ninjas", os melhores dos melhores. Então, eu já tinha perdido uma oportunidade de entrar quando fui convidado pela segunda vez, e resolvi aceitar, mas não queria pagar o mico sozinho, levei meu grupo. Meu grupo também estava bom, eu já estava com meu olhar mais técnico e já tinha aprendido um pouco de edição de imagem, então já havia amadurecido bastante ao longo da minha carreira com o circo tradicional. Fui, levei meu grupo, pegamos um ônibus em Brasília para irmos até o Rio de Janeiro e a audição era, praticamente, quase no mesmo dia. Eu tinha ido para o teste de palhaço, mas quando cheguei na audição fiquei sabendo que o teste para clown havia sido há dois dias e eu não podia fazer mais. Não teve problema, tirei meu nariz, tirei minhas coisas, e disse: "também sou um acrobata" [risos]. Acabei convencendo e fiz o teste, junto com o meu grupo, para acrobacia. De cerca de 200 pessoas, passaram umas 25 – nós estávamos entre essas 25, inclusive alguns estão no Cirque até hoje.
Jornal Carreira & Sucesso: Como aconteceu sua evolução no Cirque? Marcos Casuo: Eu entrei como acrobata, trabalhei numa modalidade onde só trabalhavam russos, era o único brasileiro e isso era um orgulho pra mim. Já estava há um ano e meio nessa função e sempre de olho no que acontecia no grupo dos palhaços, acompanhava eles em cena e percebia que sempre ficavam pouquíssimo tempo e saíam do circo. Eu até gostava da apresentação deles, mas não era a minha pegada, queria muito fazer algo diferente. Foi quando eu falei para mim mesmo "eu estou aqui como acrobata, mas eu sou clown, eu sou palhaço, é o que eu gosto de fazer"... Então cheguei no meu diretor e perguntei se ele lembrava da minha vontade de ser palhaço, e o convidei para assistir um ensaio meu como palhaço. Ele nunca ia e, nesse meio tempo, a assistente de direção foi assistir e adorou. Pediu para criarmos mais um número e que ela convenceria meu diretor a nos assistir. Depois de muito tempo ele foi assistir e gostou muito. Não quis dizer nada naquele momento, disse apenas que conversaria comigo depois das minhas férias. Passei as férias com a cabeça a mil, quando voltei meu diretor me convidou para ir ao Japão com o Cirque, mas não como acrobata, e sim como o clown oficial – o palhaço. Pra mim foi uma felicidade, era o meu gol, era o que eu queria. Me tornei protagonista do espetáculo sem nem me dar conta disso.
Jornal Carreira & Sucesso: Por que você acha que conseguiu chegar tão longe? Marcos Casuo: Tudo é possível dentro do circo. Se você quer desenvolver alguma coisa, vai desenvolver, mas vai precisar do sonoplasta, do figurinista, de muita gente junto ajudando, não tem como fazer tudo sozinho. Tem de ser otimista também, porque a mente tem um poder fora de sério. Desejar algo é mágico, tem poder. Se você fala que vai ser algo, acredite, você pode conseguir. Eu sou muito otimista com as minhas coisas, eu acredito muito no que eu posso fazer e acho que por isso consigo realizar meus sonhos.
Jornal Carreira & Sucesso: Tinha idéia que pudesse conseguir todo esse espaço? Marcos Casuo: Talvez o meu subconsciente já tivesse criado essa expectativa, vivido isso, mas no meu dia-a-dia eu nunca tive tempo para pensar nisso, pelo contrário, eu fui vivendo todos os dias como se fosse o último da minha vida, fazendo o melhor que eu podia, então o desempenho faz você chegar onde menos se espera. O Cirque não foi uma escola, mas foi um convívio muito importante, pode ter sido uma universidade
Jornal Carreira & Sucesso: No circo o trabalho em grupo é algo inevitável, não? Marcos Casuo: Com certeza, a gente aprende a crescer junto com as outras pessoas. Eu não gosto de subir sozinho, acho que esse sentimento de grupo é o que deixa qualquer número, qualquer empresa, qualquer funcionário felizes e com projetos vitoriosos.
Jornal Carreira & Sucesso: Que lições do circo você acredita que possam ser aplicadas ao mercado de trabalho? Marcos Casuo: Determinação, força de vontade, criatividade, superação. Porque o circo não é uma coisa fixa, ele viaja, em cada cidade ele muda, o organograma é o mesmo, mas o público é diferente. A mesma coisa no mundo corporativo, se você não der workshops, não treinar os funcionários, deixar o ritmo cair, a empresa que estava atrás toma a frente no mercado. As empresas não podem parar de criar, de evoluir, como o circo não pára.
Jornal Carreira & Sucesso: E improvisar é mesmo uma das grandes artes do circo? Marcos Casuo: Sim, se no circo o artista entra para fazer malabares, tem três mil pessoas na platéia, e ele percebe que os malabares não estão no palco, o que acontece? Ele improvisa. Se o numero é malabares, ele vai fazer malabares! Ele vai para o público, vai pegar sapatos das pessoas e vai fazer de uma maneira que elas acreditem que ele sempre fez assim. E no mundo corporativo também existem imprevistos e é preciso improvisar sem mostrar que não estava esperando por aquela situação.
Jornal Carreira & Sucesso: Você acha que falta esse lado circense, alegre nas pessoas? Marcos Casuo: Em um dos projetos que desenvolvo, que chamo de Universo Casuo, tento colocar esse lado paralelo da sociedade, a alegria. A sociedade não consegue enxergar por causa desse lado materialista, dos problemas. Não que eu não faça parte disso, mas eu também faço parte desse outro mundo e vejo que o ser humano acaba esquecendo esse presente dado por Deus, que é a alegria, a diversão de ter um tempinho de cuidar do filho, jogar uma bola. Conheço pais que não têm tempo para os filhos, porque têm de trabalhar e colocar comida em casa. É preciso viver o lado bom da vida também.
Jornal Carreira & Sucesso: E quais são os primeiros passos agora, de volta ao Brasil? Marcos Casuo: Eu me desliguei do Soleil há dois meses, estou pronto e quero usar todo o meu conhecimento para ajudar, para montar a Clown School, para dar orientação para as pessoas que estão procurando o circo como trabalho, como profissão. Quero montar o meu grupo e esse grupo vai virar um circo. Eu quero que realmente continue sendo uma fábrica de sonhos e ofereça muitas oportunidades, porque o mundo do circo é o único lugar onde tudo é possível, onde tudo se torna realidade, e eu estou vivo até hoje por causa disso, dessa magia do circo.
Um comentário:
O CASUO É UM EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO, PROFISSIONALISMO, SOLIDARIEDADE, DISCIPLINA... ADOROOOOOO
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