Você já ouviu falar em turnover? Esse é o termo comumente usado pelo pessoal do RH, ele designa a alta rotatividade dos funcionários de uma empresa. Nas agências de publicidade, isso é algo corriqueiro. Para saber o motivo desta "dança das cadeiras", o Adnews conversou com especialistas e descobriu que isto é um fato e não apenas uma lenda do mercado.
Turnover é uma novidade?
Para Antonieta Stefano, Gerente de RH da WMcCann, a rotatividade sempre existiu e a principal culpada é a pressa dos novos profissionais em galgar altas posições na hierarquia da agência ou buscar melhores salários. “É comum um profissional de agência grande receber propostas de agências menores – ou até das grandes, por falta de profissionais qualificados – que os oferecem cargo e salário mais altos que os seus atuais, para atraí-lo”, explica.
Segundo Antonieta, antes mesmo de completar um ciclo de aprendizagem em seu cargo, o profissional já busca uma mudança, culminando numa falta de experiência. “Por isso, quando olhamos o mercado para recrutar um determinado cargo, é comum encontrarmos um grande volume de candidatos sem a qualificação necessária“, analisa.
“Essa rotatividade é mais acentuada no setor de criação das agências, mas as demais áreas também passam por esse processo, ainda que em menor escala”, explica Geraldo DeBrito, presidente do Sindicato das Agências de Propaganda de São Paulo (Sinapro-SP).
O número de profissionais à procura dos cargos pode explicar essa alta rotatividade? Pelo contrário. “O número de candidatos não é necessariamente alto, muito menos se considerarmos os candidatos realmente qualificados”, esclarece Antonieta. Para a gerente de RH, o fato de um profissional estar em uma das principais agências do mercado é como um selo que atesta certo tipo de experiência que dificilmente o profissional terá se tiver vindo de agências menores.
Culpa da nova geração?
Se antes as mudanças profissionais no mundo da publicidade eram latentes, hoje, com a tal Geração Y e suas semelhantes, isso ficou escancarado.
Para Vanessa Gara, Gerente de Recursos Humanos da Agência Enke, o mercado está lidando com “uma geração despreocupada com o amanhã”. As agências buscam maturidade, conhecimento, experiência, ou seja, um profissional completo. “Tudo isso não se adquire ficando seis meses em cada empresa”, garante Vanessa.
Há uma pressa no pensamento do profissional contemporâneo, conforme explica DeBritto: “Esse público procura organizações onde possa avançar rapidamente na carreira”.
“Seja uma Ferrari”
Milton Mastrocessario, diretor de criação da WMcCann, está na agência desde 1991. O veterano “Cebola”, como é conhecido, dá uma dica importante: “Não é por que o mundo está acelerado que você precisa ficar afobado”.
Para ele, o profissional com gana de crescimento deve acrescentar valor ao seu nome, tratá-lo como se fosse uma marca. “Imagine se o seu nome fosse ‘Apple’, ou ‘Google’, ou ‘Facebook’, ou ‘Ferrari’, e você pudesse agregar a ele, todos os valores que essas marcas já conseguiram”, exemplifica Cebola.
Segundo João Ferraz, diretor de criação da Enken há oito anos, “seu sucesso é do mesmo tamanho da sua vontade”. Ferraz explica que não há vantagens em ser veterano se você não der 100%. “Isso não se aplica em agências, a exigência de sua competência é o que dita o tempo de casa”.
“É preciso trabalhar como se você fosse dono da empresa”, acrescenta Cebola.
Agências: conquiste seu criativo
Claro que as próprias agências também precisam propiciar um bom ambiente ao publicitário. A WMcCann, por exemplo, opta pelos programas de qualidade de vida, como o Summer Friday (fim de expediente mais cedo nas sextas-feiras de verão), além de emendar os feriados e fazer um recesso de final de ano, entre outras regalias.
A agência Tagawa, por sua vez, aplicou uma ferramenta de liderança na gestão dos profissionais e, segundo a empresa, após a implantação da solução, ocorrida em 2007, houve aumento de 300% no faturamento e o turnover passou de 58% para 19%.
Nizan Guanaes, no Prefácio do livro “Criação sem Pistolão”, de Carlos Domingos, disse que “publicidade é batente, trabalho duro. Repetição”. Talvez, esta máxima de Nizan sirva para inspirar os novos criativos a (re) pensarem uma possível "mudança de casa". Será que ela é mesmo necessária?
Por Leonardo Araujo
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