segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Globo e CBF brigam por futebol


Na quinta-feira passada a TV Globo começou a apimentar o cenário do futebol. Uma notícia dizia que a emissora, poderoso grupo de mídia brasileiro, manifestava a intenção de mudar o formato atual de disputa do Campeonato Brasileiro de Futebol, principal competição do esporte no país. A ideia era vetar o esquema de pontos corridos, disputado desde 2003, e aderir ao velho conhecido mata-mata, modelo que supostamente traria mais audiência à TV.

A resposta veio dois dias depois. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo do último sábado revela o início de um conflito entre gigantes. Em entrevista ao impresso, Ricardo Teixeira, presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol, contragolpeou a TV Globo. Em resposta à intenção da emissora, ameaçou mexer no calendário e também alterar o horário de realização dos jogos, comuns às 22 horas, horário nobre para a audiência. “Discutir os pontos corridos? Eu topo, mas também calendário, o horário da TV. Você não pode creditar ou debitar só de acordo com seu interesse”, alfinetou.

O cartola citou a experiência positiva feita com a série B, em que jogo chegaram a acontecer às 19h. " Nós fizemos testes agora na série B de fazer jogos mais cedo. Tem dado um excelente resultado. Quem sabe a gente tenha que mudar o horário dos jogos. Principalmente à noite”, afirmou à FSP.

Toma lá da cá

A jogada de Teixeira tem sido vista como espécie de retaliação à proposta da Globo. A rede carioca já começou a acionar seu poder nos bastidores. Foi ao Clube dos 13, entidade que reúne os principais times de futebol do Brasil, e apresentou proposta. “A Globo levou uma proposta a nós e estamos ouvindo as justificativas deles para a adoção do mata-mata. Estamos discutindo valores da negociação, mas ainda não há nada certo. Esta pode ser uma forma interessante em que todo mundo possa sair ganhando", afirmou o Delair Dumbrosck, presidente do Flamengo.

A emissora teria oferecido valores de cotas mais altas aos clubes em troca de que eles convençam a CBF a alterar o regulamento do campeonato. A discussão é abrangente. De um lado, a Globo representa também o interesse dos anunciantes que compram suas cotas e exigem resultados. Ambev, Banco Itaú , Volkswagen, Vivo e Casas Bahia renovaram contrato com a emissora para o Futebol 2010. Cada uma das marcas vão pagar R$ 116 milhões por cada cota de patrocínio, valor cinco milhões mais barato do que o cobrado em 2009.

Por outro, a CBF se defende. "Como presidente da CBF, não posso ficar só preocupado só com o índice de televisão. Eu tenho de ficar preocupado também com o torcedor. Não adianta fazer jogo com o campo vazio", disse à Folha. O torcedor deve ser incluído no debate. Vale citar que a malha metroviária encerra seus serviços por volta da 0h e a linha de ônibus trabalha com circulação reduzida. O jogo que tem início às 22h acaba nesta faixa de horário

A Comenbol - Confederação Sul-Americana de Futebol - fez a Globo a provar a experiência proposta por Teixeira. O jogo entre Brasil e Venezuela, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, teve início às 19h em Campo Grande e obrigou a emissora a mexer na grade de programação. Em atitude rara, o "Jornal Nacional" teve de ser exibido no intervalo da partida. "Havia muito tempo não via isso. Eu fui ao jogo e voltei para o Rio em um horário maravilhoso. Á meia-noite estava dormindo", declarou Ricardo Teixeira.

Desafio em comum

Escândalos de corrupção e outras acusações marcaram a gestão de Celso Pitta à frente da Prefeitura de São Paulo. Política e questões judiciais à parte, Pitta e Teixeira têm algo em comum. O ex-prefeito não só ameaçou como de fato interviu na programação da TV Globo e , segundo o blog Zerozen, fez disso um fato que "cavou seu próprio túmulo".

O primeiro passo de Pitta neste sentido foi dado na final do Campeonato Brasileiro de 1999. A partida estava agendada para às 16h, mas o político não concordou com o horário por conta de não haver condições para garantir a segurança na saída do público do estádio. Portanto, Pitta entrou com liminar judicial e conseguiu alterar o horário para às 21h40. O problema é que centenas de artistas haviam sido convidados para acompanhar a partida da cabine da Globo. Resultado: acabava de despertar a ira dos convidados da emissora. Alé disso, inclui na conta o prejuízo comercial causado pela alteração repentina no horário.

Como se não bastasse a primeira vez, houve uma segunda. E aí, como informa o site Zerozen, o erro cometido seria "fatal". A Globo tinha programado realizar seu especial de reveillon do ano 2000 no sambódromo paulistano. Novamente, Pitta interviu e encabeçou uma decisão judicial que pôs fim à ideia e atrapalhou os planos da mesma classe artística que estaria na festa e planejava aparecer na televisão.

Os fatos em si não dizem muita coisa. Entretanto, viriam a culminar com o deslize amoroso cometido pelo ex-prefeito, conforme afirma o Zerozen. Uma suposta traição de Pitta despertou a ira de Nicéa, mulher do político, que tomaria a decisão de pedir o divórcio. Em entrevista exclusiva à mesma Globo, Nicéa afirmou que São Paulo vive em um mar de lama, que não é o do Tietê. Estava, assim, instaurado o furor e a confusão que ajudaram a derrubar o prefeito.

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