"O que você faria, se só te restasse esse dia?", pergunta Paulinho Moska, em sua música O último dia. E nesta quarta-feira, 21 de novembro, faltarão apenas 30 para o fim do mundo, segundo a profecia do calendário do povo maia, que marca a "fatídica data" para 21 de dezembro de 2012. A maioria das pessoas, no entanto, ri do agouro e nem de longe acredita na extinção da vida no planeta em um mês. Na comunidade científica e exotérica internacional, a data também causa polêmica e já foi pretexto para muita discussão. Há quem diga que a profecia maia foi interpretada errado.
Entre os leitores do portal A TARDE, em fóruns de discussão abertos no canal Cidadão Repórter e na fan page no Facebook, teve quem brincasse com a ideia de que os maias "não conseguiram prever o próprio fim, quando os espanhóis dominaram as suas terras, imagine o do resto da humanidade", comentou o internauta Francisco André, em alusão à colonização das Américas Central e do Sul a partir do século XV, que culminou com a extinção não apenas dos maias, mas de astecas, incas e outros povos chamados pré-colombianos pelos historiadores. Os maias viviam em parte do território onde hoje localiza-se o México.
"Quem, atualmente, acredita que o mundo vai mesmo se acabar em dezembro deste ano? Só um louco mesmo para crer", disse o advogado Paulo César. "Já perdi a conta de quantas profecias sobre o fim do mundo falharam", lembra.
E de fato, várias profecias não se concretizaram ao longo dos séculos, "ainda bem", diria um leitor mais otimista. Na virada do século19 para o 20, por exemplo, houve boatos de um apocalipse iminente. Na virada do milênio, na aurora do ano 2000, também houve quem jurasse de pés juntos que a vida na terra estava por um fio. E até hoje estamos por aqui.
O oba oba em torno da profecia maia decorre de um equívoco de interpretação do calendário desse povo, que era muito versado em matemática e astronomia. Segundo a concepção maia, cada era tinha 5.125 dias, e quando esse período acabava, surgia uma nova era, mas sem desastres e sem qualquer tipo de cataclismo ou coisa parecida. Nada que lembre o filme hollywoodiano 2012, por exemplo. O clima de "últimos dias", no entanto, não deixa de render seus dividendos: uma exposição em Bogotá (Colômbia) foi aberta à visitação recentemente para tirar dúvidas e esclarecer sobre a suposta profecia.
Trilha sonora para o fim do mundo: O último dia (Paulinho Moska)
Não está escrito nas estrelas - Astrologicamente, não há nenhuma alteração e nenhum significado especial para o 21 de dezembro de 2012, é o que garante o astrólogo e estudante de astronomia da USP, Alexey Dodsworth Magnavita. O que Magnavita argumenta é que o 21 de dezembro, para o povo maia, significaria o mesmo que o dia 31 de dezembro para o calendário ocidental. Ou seja, o fim de um ano, ou de uma era.
"O calendário deixado pelos maias acaba em uma data que, convertendo para o nosso, dá no dia 21 de dezembro. Então, vamos supor que alguém no futuro encontre nosso calendário atual e veja que o dia 31 de dezembro é o último dia do ano, esse achado também pode fazer supor que o mundo se acabaria em 31 de dezembro do ano ali escrito", compara o astrólogo.
A data também não possui nenhuma conjuntura especial cósmica que sinalize alguma mudança de comportamento ou pensamento da humanidade, por exemplo. "Um dos últimos posicionamentos foi em fevereiro de 1962, quando houve um alinhamento em aquário. Ali sim, houve um processo de mudança de pensamento social", destaca Dodsworth Magnavita.
Cuidado com o pé na jaca - Para os poucos que não acreditam no fim do mundo, mas, por via das dúvidas, pretendem dar um jeito de aproveitar o tempo que lhes resta a contar desta quarta, já que tudo no Brasil, ainda mais na Bahia, é motivo para comemorar, um alerta: vale relembrar a canção de Assis Valente, E o mundo não se acabou, que tratou sobre o assunto, em 1930, e ter mais cautela na hora de pisar no acelerador e garantir uma diversão dionisíaca "antes do fim".
A canção do sambista baiano, nascido em Santo Amaro da Purificação, em 1911, e morto no Rio de Janeiro, em 1958, conta a história de um sujeito que se deu mal ao acreditar nessa "conversa mole" de apocalipse. Pensando que o mundo ia acabar, o moço foi "tratando de se despedir", beijou "a boca de quem não devia", pegou "na mão de quem não conhecia", e, no final das contas, depois de todos os micos e excessos, "o tal do mundo não se acabou".
Funcionário público e casado há mais de 30 anos, Mário Cintra, 54 anos, nem de longe pensa em se inspirar nos excessos do protagonista da canção de Assis Valente, mas diz que, se o mundo fosse mesmo acabar, tentaria sim beijar as bocas que não beijou. "Ficaria com o máximo de mulheres diferentes que pudesse", revela. Célia Cintra, a esposa de Mário, revida a brincadeira e, apostando na qualidade mais do que na quantidade, apostaria em um galã como o Rodrigo Lombardi, ator da TV Globo.
Trilha sonora para o fim do mundo: E o mundo não se acabou (Carmem Miranda canta Assis Valente)
Melhor não deixar para o ano que vem - A publicitária Carina Sena, que faz dieta para manter a forma, diz que nem o pretexto do fim do mundo a faria descuidar da silhueta e cair de boca nos doces. "Quero estar mais magra ainda até o final do ano. E se eu exagerar e nada acontecer, o mundo fica, e eu mais gorda nele", se diverte.
Já para aqueles que tiveram alguma mágoa ou desafeto, o "fim do mundo" poderia ainda ser um bom pretexto para curar as desilusões. Ao menos é no que acredita o universitário Jean Dias: "Se eu tivesse certeza que depois do dia 21 de dezembro não sobraria mais nada, procuraria uma ex-namorada para revê-la e também para conversarmos sobre coisas que não foram ditas, que não foram explicadas".
E você, leitor, acredita que o mundo está por um fio? Ou vai dar uma de São Tomé e só "acredita vendo"?
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