Baixista e compositor do Jammil, Manno Góes, fez um convite irreverente para os que estão interessados em aparecer no Carnaval de Salvador. Sem “meias palavras”, ele afirma que é tradição xingar, esculhambar e “se jogar” durante a folia na capital baiana.
Sem receio das críticas que certamente virão, Manno Góes, assina um desabafo interessante e polêmico.
Leia e comente:
Quer conhecer a Bahia, né?
Aí comenta na mesa do bar: "acho que vou passar o carnaval na Bahia".
Mas aí a amiga escrota, trintona, solteirona, baranga pra caralho filha da puta que não pega mais ninguém diz: "Cuidado. Carnaval em Salvador é perigoso".
Cuidado o caralho. Puta mal comida.
Aqui é igual ao Rio. Igual a Coritiba. Nova Iorque. Tóquio. São Paulo.
Ou vc acha que é privilégio de baiano furtar bolsas e sacolas? Já deixou mala de vacilo em aeroporto de Paris, querida? Vacilou, dançou. Em qualquer lugar do mundo.
Agora, vou te falar uma coisa:
Aqui na Bahia, as coisas são diferentes.
Primeiro que aqui todo mundo fala palavrão.
Nome feio de verdade aqui é Zé Dirceu, João Henrique e José Sarney.
Porque punheta a gente bota no diminutivo e come uma punhetinha logo na primeira baiana de acarajé que encontrar no aeroporto.
"Porra"? A palavra "porra" serve pra tudo. Tudo mesmo. O taxista pergunta "vai pra onde?", você responde "pra Ribeira". Ele diz "porra! Longe pra porra!". E na hora de pagar você pode perguntar "quanto deu essa porra?" que ele não vai se ofender. Agora, se você for pagar com nota de cem e a corrida tiver sido trinta, ele vai dizer "porraaaaa! Quer me foder, é? Que porra é essa?" portanto, tenha sempre em mãos umas porras de notas de vinte, ok?
E buceta aqui também não conta como palavrão. Buceta é qualquer coisa que seja incompreensível.
Por exemplo: você pergunta pro segurança do shopping: "aqui tem Outback?" ele pode não te responder, mas vai pensar "que buceta é essa?". Aí você vai pro Mcdonalds e fica tudo certo. Buceta é lindo. O atacante do Bahia perde o penalti e o locutor diz no ar "que buceta! Chutou pra fora"!
Então, não se choque. Buceta na Bahia é algo como "putz grila" no disco novo de Roberto Carlos.
Outra coisa: cu aqui é muito usado. Muitos artistas aqui usam muito o cu. Políticos usam demais. Jornalistas, então? Vixe. Arquitetos. Médicos. Advogados. Cantores de axé, ave Maria.
Explicando: A gente aqui usa a palavra cu direto. Principalmente quando algo não foi legal, sabe? Já pica, ao contrário, é usado quando algo foi muito legal. Exemplo: "o show de fulano foi legal?" se o cara responder "foi um cu", é porque foi uma merda, meu rei. Mas se responder, "rapaz, foi pica", é porque foi bom pra caralho. Entenderam? Cu é ruim, pica é bom. Aprendam isso quando vierem pra Bahia.
Baiano não gosta de puxa-saco. Odeia puxa-saco. Se achar que andar de tererê no cabelo, berimbau na mão e fitinha do Bonfim cor de rosa no pulso vai atrair simpatia de baiano, esqueça, véio. No mínimo vão te confundir com alemão e lhe cobrar mais caro o acarajé.
Baiano gosta de dançar e de quem dança. Baiano não liga se você dança errado. Ao contrário. Porque baiano adora ensinar. E baiano ama quando você se joga desengonçado no ritmo do Kuduro, do Largadinho, do Rebolacion, do Dancation, do xoxotecion, ou do ritmo da moda. Baiano quer ver você se jogar, não fazer direito.
Outra coisa: baiano respeita a polícia. E aprenda direito: baiano respeita a "políça".
Quer mijar?? Mije na casa do caralho, mas não na rua. Se a políça te flagrar mijando, tu vai se foder. Se tiver briga, saia de baixo, negão. Brigar em carnaval é coisa de otário. Se passar por algum perrengue, vá num posto policial. A políça vai te ajudar sim. Respeite a políça. Aqui na Bahia a políça bota pra foder!
E você é do tipo certinho, que acha palavrão coisa feia? Meta o dedo no cu e se lasque, porque baiano que é baiano mesmo fala palavrão pra caralho. Carro bateu? "xi, fodeu". Faltou gasolina? "me fodi". Perdeu o horário? "ai, caralho".
Baiano quando nasce não chora. Manda o médico que bateu na bunda tomar no cu.
Mas baiano é muito, muito gente boa. Gente boa até demais.
É alegre. É farrista. É do dendê. É cheio de suingue.
Baiano não perde a virgindade; estreia.
A Bahia é rua. Tem o melhor carnaval do mundo.
E quer saber que porra é essa que quero dizer? Venha ver aqui essa buceta, negão.
Venha tomar uma Sacanagem da Dadá. Um polvo sipueira na biceteria de Jajá. Venha.
Venha ver que do caralho é sair nas ruas atrás do trio dando uns pegas gostosos em gatinhas manhosas e ver que aqui, apesar da luxúria, tem um certo respeito. Beije um monte. Arroche. Se esfregue. Mas se desrespeitar a guria, guri, teu saco escrotal vai invadir seu cerebelo com o chute bem dado que um baiano da gema incomodado vai te dar bem dado. Aqui pode tudo. Homem com homem. Mulher com mulher. Mas não pode ser babaca. Mexeu com mulher dos outros? Pau! Meteu a mão onde não devia? Pau! E depois não reclame.
Aqui todo mundo se diverte!
Lógico. Filho da puta tem em tudo que é canto. Mas sua chance de adorar é bem maior que a de odiar.
Venha pra cá no carnaval, turista.
Aqui seria um cu sem você.
Você é pica? É boca de zero nove? Você é fudião mesmo? Bota pra foder?
Então Venha pra cá, sacana!
Você é buceta ou não é?
Agora, quer ouvir bate-estaca no carnaval??? Quer dançar ao som do DJ? Meta sua champagne no cu e perca a chance de ver o Ghandi passar. De ver as coxas de Ivete. De se pintar de timbaleiro. De ver as gatinhas do Praieiro, do Eva, do Balada, do Cheiro, do Papa. De ouvir Bel cantar "diga que valeu" e Durval gritar "o Asa arreia". De conhecer Jau, Magary e o Ziriguidum dos Filhos de Jorge.
Vai lá pro seu bate-estaca.
Porque aqui quem faz festa é a gente.
É o trio. É povo. É a pipoca.
Quer comer sushi? Abra as pernas de um japonês e passe vaselina de wasabi no cu dele.
Ê, Bahia que eu amo!!!
Por isso chame, chame, chame, chame gente
Que a gente se completa
Enchendo de alegria
A praça e o poeta.
(Clarice Lispector. Com
Amor
E ternura. E uma pica dura, talvez)
Salve, Salvador
Me bato, me quebro tudo por amor
Eu sou do Pelô!
We are carnaval; we are folia
O pau de Castro Alves falta um ovo
Quem comeu foi o gavião
Cuidado, Castro, pra não perder o outro,
O poeta do povo não pode ficar sem culhão
Texto: Manno Goes
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