sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Leila Navarro: descubra a relação entre talento e crise

Considerada uma dos 20 melhores palestrantes do Brasil, pela revista Veja, Leila Navarro é referencia quando o assunto é palestra motivacional e comportamental.
Autora de 11 livros, sendo alguns deles traduzidos para o espanhol e japonês, a palestrante já ganhou por duas vezes o Prêmio dos 100 Melhores Fornecedores de RH – Categoria Palestrante do Ano, em 2005 e 2009, graças às suas apresentações que percorrem o Brasil inteiro, além do Japão, Espanha, Portugal, Chile, Peru, Uruguai e Panamá.
Na entrevista cedida ao Carreira & Sucesso, Leila discorre sobre sua trajetória de sucesso, e conta como surgiu a idéia de escrever o seu último livro “Talento à prova de crise”.
Conte um pouco de sua carreira desde a sua formação em fisioterapia até ser considerada uma das melhores palestrantes do Brasil. Quando tinha 17, 18 anos de idade, queria fazer medicina. Mas como o vestibular era difícil, e de tão estressante, parecia impossível, percebi que o queria era trabalhar com gente, cuidar de gente, e aliviar as tensões das pessoas. Foi então que fiquei sabendo que a USP tinha aberto um curso de fisioterapia e terapia ocupacional. Como sou uma pessoa muito prática, e vi que medicina iria ser tão complicada e queria cuidar de gente, achei que fisioterapia seria interessante. Fiz o vestibular e entrei em uma das 25 vagas. Como era um curso novo, não sabia muito bem o que era, e me formei com a segunda turma do curso. Foi uma grande escolha e muito interessante. Era o começo dessa profissão regulamentada, então me considero uma das primeiras turmas. Fiz o curso com muita vontade, muito ânimo, e tive muito sucesso como fisioterapeuta.
Mas como sempre fui muito curiosa e nunca parei de estudar, e me interessar pelas coisas, quis ser professora universitária, porque achava que tinha uma facilidade de comunicação, e queria aproveitar esse meu talento. Eu queria dar aula na USP, mas não consegui porque só tinha período integral. Então, fui dar aula na Universidade de Mogi das Cruzes. Era uma professora muito irreverente, diferente, dava aulas muito interessantes e provocativas, e os alunos queriam algo mais quadrado, que não fugisse do padrão, já que era mais fácil pra eles. Dei aula por dois anos lá e não fui bem aceita. Não foram todos os alunos, mas parte deles foi reclamar para a diretoria dizendo que não me queriam como professora. Isso fez com que a direção me chamasse e dissesse que não se interessava pela minha presença na universidade.
Não foi fácil não ser aceita pelos alunos. Mas acho interessante, porque mostra que na vida nada é por acaso, e as coisas sempre acontecem para você abrir outras portas. E essa foi a oportunidade que tive para ir às empresas, que estavam precisando de pessoas que trabalhassem com formação, educação e abertura, mas que fossem irreverentes e quebrassem padrões. Acho que a universidade, hoje, está se modernizando muito, mas ainda fica um pouco presa aos padrões. Já as empresas são muito mais abertas pra isso. Então comecei a dar palestras, nessa virada da minha vida, quando também, tive uma mudança pessoal e vendi a minha clínica de fisioterapia. Juntou tudo, a questão pessoal de vender a clínica, e a tentativa de dar aula na universidade e ver que ela não absorvia a criatividade e irreverência que eu tinha, coisas que as empresas começaram a absorver.
Claro que estou relatando resumidamente e parece que foi mágica. Mas nada é mágico e de uma hora pra outra. As coisas vão acontecendo e você vai falando sim ou não pras oportunidades que estão aparecendo.
Resumindo, trabalhei como fisioterapeuta no Hospital Sírio Libanês, depois tive uma clínica de fisioterapeuta, onde fui empresária e aprendi durante 10 anos o que é ser empresária, já que a faculdade não te ensina isso. Nesse caminho todo, sempre fui pesquisando, fuçando, estudando e me apareceu essa oportunidade de começar a falar de qualidade de vida nas empresas. Eu já tinha feito alguns cursos sobre isso, e me descobri uma pessoa muito talentosa, com um conteúdo muito interessante e provocativo. Somei toda a experiência que já tinha tido, entrei nesse mercado, e comecei a dar a palestras e a escrever livros.
Uma coisa muito interessante, é que quando estava decidindo ser palestrante, havia um consultório onde eu atendia o método Rolf, e o Roberto Shinyashiki, perguntou quanto era, e eu disse que queria fazer uma troca: “eu faço as sessões e você me ensina como posso ser palestrante, porque quero ser você amanhã”. Acho que essa coragem de perguntar pra pessoas o caminho, podendo escutar sim ou não, já é um bom começo pra quem chegar a algum lugar.
Foi quando você começou a dar palestras que percebeu que tinha jeito para a coisa e que poderia ajudar as pessoas? Na realidade, quando eu era professora, já tinha percebido que tinha a capacidade de ensinar as pessoas. Mas o mercado empresarial é interessante, porque as pessoas têm que crescer, aprender, e não tem muito tempo. E uma palestra é um trabalho revolucionário, já que os palestrantes profissionais e muito dos motivacionais, têm que ser impactantes e dar um chacoalhão nos ouvintes, fazendo com que eles busquem a mudança, o crescimento, o conhecimento e o preparo. Acho que tenho esse talento e essa provocação. E não foi de um dia pro outro que descobri isso. Vim descobrindo e descobrindo como era esse mercado empresarial que eu não conhecia.
Mas acredito que as pessoas têm que decidir rápido. Sempre digo que os indivíduos felizes, tomam decisões rápidas, provocam menos acidentes e se relacionam melhor com os outros. Ser feliz é um grande negócio. E peguei esse mote da felicidade, da qualidade de vida, do autoconhecimento, da mudança comportamental. Acredito que provoco mudança nas pessoas. Como você se prepara para as palestras e como faz com que cada uma seja diferente da outra? Cada uma é uma porque as pessoas que estão assistindo são diferentes. Se você já namorou várias vezes, com cada namorado você é de um jeito, de acordo com as pessoas. Conforme o briefing a gente muda também. Se você está falando com uma empresa de metalúrgico, é diferente de quando você fala para um público de TI. Sabendo quem é meu público tenho que mudar. Se é só masculino ou feminino e, conforme a sua idade, tenho que mudar a minha postura. Mas acho que uma grande coisa que temos que fazer é nos prepararmos o tempo inteiro. Sou uma pessoa que investe muito em mim, faço muitos cursos de autoconhecimento que me fazem crescer, me perceber e me conhecer. E quanto mais eu tenho domínio e controle sobre minha pessoa, mais percepção tenho do outro e consigo passar o conteúdo. O conteúdo é importante e o mais fácil de adquirir, ele está aí. Agora, o que precisamos desenvolver é a experiência, buscar e experimentar as coisas. Além disso, estar muito ligado ao seu próprio desenvolvimento quanto pessoa, porque é aí que você consegue ser uma boa comunicadora e atingir as pessoas com o conteúdo que você quer.
Você fala muito sobre motivação, porque esse tema é tão recorrente e porque as empresas pedem tanto palestras sobre motivação? Falo muito sobre motivação, porque as pessoas chamam minhas palestras de motivacionais e elas são conhecidas assim no mercado. Mas eu gostaria que elas chamassem palestras atitudinais ou comportamentais. Porque, na realidade, ninguém motiva ninguém. Se você tem um grupo de pessoas desmotivadas na empresa, junte essas pessoas e mande-as embora. É o maior favor que você fará a elas. Se elas não têm motivos pra irem trabalhar, pague os direitos delas, dêem apoio para elas irem buscar um lugar que tenham um motivo de estar, e se sintam crescendo fazendo alguma coisa. A pessoa tem que ir motivada para a empresa. Ninguém vai a um trabalho falando que quer sofrer e se estressar lá. A pessoa vai para uma empresa porque tem um desejo, um sonho, e acha que lá vai crescer. Às vezes, chega à empresa e começa a se desmotivar, porque estava mal informada e não era o que ela queria, ou porque o motivo dela mudou. Ela está esperando outras coisas. Ou porque a própria empresa desmotiva, promete uma coisa e faz outra.
Mas, enfim, temos que estar conscientes se ainda existe um motivo, porque o motivo ta dentro de mim e não fora, e quando ele acaba, por qualquer razão, tenho que procurar outro motivo, ser sincera e franca comigo mesma, e não ser hipócrita. O autoconhecimento é muito importante. E o que faço na palestra é mostrar como somos poderosos, e como podemos assumir a nossa vida. Porque a vida é um reflexo de como nos administramos por dentro e conseguimos administrar por fora. Ensino isso por A + B, comprovo e provo pras pessoas. Elas saem supervalorizadas, super fortalecidas, acreditando que são poderosas e podem. Esse é o grande diferencial das minhas palestras: restituir às pessoas esse poder, poder que elas já têm, que é da escolha, da busca e da realização. Mas não podemos responsabilizar as empresas por isso. Elas têm o papel delas. Se nos encontrarmos vai ser lindo, se eu e a empresa nos encontrarmos vai ser lindo, mas se não, nada tem a fazer. Você tem que procurar outra empresa e a empresa outro colaborador que esteja combinado com as suas necessidades.
Hoje é mais recorrente a falta de motivação das pessoas? Acho que hoje as pessoas estão um pouco mais exigentes, porque têm mais informação das coisas, mais expectativas, ambições e sonhos, dentre as várias possibilidades que existem. Então elas podem estar um pouco mais desmotivadas porque vêem que poderiam estar fazendo tantas coisas, às vezes não se sentem preparadas, e acabam se sentindo inconformadas onde estão. Falo o seguinte: nós temos que buscar nossa realização, que depende de nós. Se você está tendo um monte de possibilidades e não está feliz, você que tem que buscar. Se não percebe como pode buscar, e não vê como essa força está em você, e que é você quem determina a sua felicidade e sucesso, fica difícil, porque ficará culpando os outros, o sistema, e a empresa, quando é você quem pode mudar isso. Nós temos poder quando percebemos que somos nós quem pode fazer as coisas e perdemos poder quando achamos que quem tem que fazer é a empresa, o país ou o sistema. Eu sempre digo, nada muda se eu não mudar. Acho que na época dos meus avós, quem fazia faculdade era médico, engenheiro, professor, advogado. Hoje, você tem milhões de carreiras pra escolher; você faz uma faculdade e vai trabalhar em outra coisa, depois faz uma pós-graduação e muda de área. Então, você tem milhões de possibilidades, fora a experiência de vida. Você pode estar trabalhando em alguma coisa e ter uma experiência em, por exemplo, saltar de asa-delta, e de repente você soma isso com o seu conhecimento de recursos humanos e cria um treinamento diferente. Enfim, tudo na vida pode ser somado. O mundo hoje tem milhões de oportunidades, fora que da sua casa você pode estar conectado com todas as partes do mundo, não há mais limites. O limite é você quem faz.
Como surgiu a idéia de escrever o seu último livro “Talento à prova de crise”? Escrevi o livro “Talento pra ser feliz” que foi um sucesso, e é meu grande best seller, está em japonês, português de Portugal, e está indo sendo traduzido, agora, para o espanhol. Ano passado, na época da crise, eu estava na Espanha e vi as pessoas tão assustadas, como se o mundo fosse acabar; aqui no Brasil também senti isso, mas menos do que na Europa. E pensei: “mas quem tem talento, não tem crise, porque com o seu talento, você muda o mundo”. Então, fiz essa continuação do “Talento para ser feliz”, mas com um apelo mais profundo e maduro, mostrando que a vida é um mar de oportunidades, que nascemos pra ser feliz, e que existem alguns tsunamis, pressões e realidades que nos tiram o chão e da zona de conforto. Falo, também, como a gente pode driblar essas situações com o nosso talento. E provo, com A + B, que pra quem tem talento não há crise, mas você tem que assumir o seu talento, sem medo de ser feliz. Mas essas crises podem ajudar no crescimento também? Quando se tira o S da palavra crise, vira crie. Acho que a crise é uma oportunidade de você se conhecer e perceber cada vez mais quais são as suas opções. Porque se você não tem nenhuma crise, fica na água morna, na zona de conforto, você se atrasa, e fica, em termos musculares, atrofiado. Pra conseguir que a musculatura fique saudável, tenha força e massa, você tem que fortalecê-la e, cada vez, dar pesos e esforços maiores pra ela. As crises são esses esforços que vêm e fazem com que a gente perceba o quanto temos de força e o quanto não temos, e o quanto nós temos que treinar ainda esse músculo. A crise faz parte da vida, sempre vamos tê-la nas nossas vidas e temos que saber aproveitá-las da melhor maneira possível e não ficar chorando, porque quem critica e reclama, não consegue andar pra frente, fica sempre no mesmo lugar.
Você acredita que é só na crise que as pessoas procuram se autoconhecer? Tem um ditado que diz que você pode chegar ao desenvolvimento pelo amor e pela dor, mas as pessoas acabam sempre chegando pela dor. Acho que quando a gente está muito na zona de conforto, nos acomodamos. Acredito que seja difícil a pessoa que está bem querer mudar. Embora existam alguns autores que dizem que é quando time está ganhando que você tem que rever e mudar, geralmente ninguém quer mudar quando o time está ganhando. É apenas quando você sente um aperto que muda. O ideal seria as pessoas perceberem que devem estar sempre buscando, crescendo e aprendendo, independente se a situação está boa ou ruim.
Qual a relação entre talento e crise? Acho que são nas crises que percebemos melhor quais são os nossos talentos. Quando você está sob pressão, sob ameaça, e em desconforto, começa a buscar dentro de você como resolver aquela situação. A crise provoca que coloquemos para fora algumas coisas que temos. Mas não devemos ter medo de colocar essas coisas para fora. O talento é algo natural de cada pessoa, e não é porque você tem um talento que não tem que desenvolvê-lo e aperfeiçoá-lo; os talentos estão lá, mas é preciso aprimorá-los cada vez mais.
Pra finalizar, que dica você daria para alguém que está passando por um momento difícil, por uma crise? Como sair dela e se tornar melhor? A primeira coisa que a pessoa deve fazer é parar e limpar o seu guarda-roupa; ver o que tem lá que não serve mais, o que ainda está vestindo bem e o que não está lá e deveria estar lá. As coisas quando não acontecem como a gente quer é porque serão melhores do que você pensou. Procure observar isso na sua vida e veja que, após um tempo você percebe que as coisas que não saíram do jeito que você gostaria, aconteceram de uma forma melhor, e, graças a isso, você conseguiu aprender certas coisas, estar em outros lugares, conhecer certas pessoas, se conhecer melhor, e ver as suas forças e fraquezas.
Outra coisa que queria deixar aqui é algo que tenho certeza absoluta: nada muda se você não mudar. Não adianta você ficar reclamando, criticando, buscando um culpado. Diante de qualquer situação, veja o que você tem que fazer pra aprender, pra mudar essa situação, pra reverter o processo. Porque está na sua mão, nada muda se você não mudar.

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