segunda-feira, 6 de abril de 2009

Entrevista:Ronaldo Mattos - Preparação e oportunidade para crescer na carreira


Ronaldo Mattos assumiu recentemente o cargo de diretor executivo na Marisol, uma das mais importantes indústrias do vestuário do Brasil, onde já atuava há cinco anos em outras funções. Atualmente, o executivo passa a dirigir a One Store, primeira rede de valor em moda do país, e fazer a gestão das marcas Marisol e Pakalolo.

Na entrevista, ele comenta que sua grande missão é contribuir para que a Marisol seja reconhecida como gestora de marcas e canais e não apenas como uma indústria. Para isso, vai fazer com que a empresa se aproxime ainda mais do Varejo. Além disso, dá excelentes dicas para todos os profissionais que querem trabalhar com o Varejo, principalmente neste setor de moda e vestuário.

Mattos tem experiência nas áreas de varejo multimarcas e operação e expansão de lojas franqueadas no segmento do vestuário e no ramo das cerâmicas, onde atuou na Portobello. Também atuou na Coca Cola. Formado em Administração, pós-graduado em marketing e Mercados Globais e MBA em Gestão Empresarial p/ FGV - Ohio University - USA.

Como surgiu a oportunidade de assumir a diretoria executiva da empresa?

A Marisol fez uma reestruturação interna por áreas de negócio de acordo com o perfil de classe social, produtos e canais de distribuição. Hoje, temos três áreas: luxo, premium e consumo. Nessa divisão surgiu a oportunidade para que eu assumisse a área de consumo.

E qual foi a sua reação ao receber esta oportunidade?

Foi muito boa, claro, pois nos preparamos para isso algum dia. Todo vendedor quer ser supervisor. Todo gerente quer ser diretor e por aí vai. Muitos dizem que crescer na carreira é ter sorte. Mas eu prefiro a definição do Roberto Shinyashiki, que diz que sorte é quando a preparação encontra a oportunidade. Muitas vezes a pessoa tem a oportunidade, mas não está preparada. Felizmente, a empresa entendeu que eu estava preparado. Está sendo um desafio bem grande, pois quase a metade do faturamento de toda a empresa está sob minha responsabilidade.

Você sempre quis trabalhar nesse setor do vestuário?

Não planejava trabalhar no vestuário. No Varejo, sim. É onde me sinto confortável. No Varejo, em síntese, só trocamos de produto. As ações comerciais são parecidas. Na área industrial não me sentiria confortável e provavelmente recusaria o convite. Se fizer um retrospecto da minha experiência profissional é possível dividi-la em blocos de cinco anos. Comecei no exército e lá fiquei por cinco anos. Saí de lá como 1º tenente. Depois, trabalhei por cinco anos na Coca Cola, que, claro, é bem diferente. Apesar de ser Varejo, é uma empresa de produtos definidos. Depois, fiquei outros cinco anos na Portobello, empresa que faz cerâmicas. Agora, estou há cinco anos na Marisol e acredito que vou ficar mais tempo.

Como você enxerga o profissional que trabalha neste setor?

Que características as pessoas que atuam no setor devem ter? Precisa gostar e estar sempre antenado na Moda. Cada estação traz tendências de mercado. Então, o profissional precisa estar ligado neste mundo. Ele também precisa entender muito de gestão de pessoas, pois a moda é manufaturada, apesar de ser um setor repleto de máquinas e tecnologias, as pessoas são fundamentais para operá-las. O profissional também precisa entender o comportamento e os anseios de cada classe social. Também é fundamental conhecer como funciona uma loja, qual o lógica do Varejo, que áreas existem na loja. Por exemplo, é fundamental saber o caminho que um produto faz ao entrar na loja. Outros exemplos: é preciso saber qual o tipo de exposição necessária para um produto que acaba de ser lançado. Conhecer o processo financeiro de uma loja, como um lojista compra e vende.

Qual sua principal missão dentro da Marisol?

A empresa está focada em ser reconhecida como gestora de marcas e canais. Essa é a principal missão de todos os executivos da empresa. Não queremos ser só reconhecidos como empresa do vestuário. Estamos na fase de migração de um modelo industrial para varejo. Queremos deixar de ser uma indústria que produz roupas e depois vende. O objetivo é produzir exatamente o que o Varejo quer.

O mercado brasileiro de vestuário é bastante diferente do de outros países como Estados Unidos e Europa?

Não. São bastante parecidos. A maior diferença está na quantidade de fábricas versus terceirização. Por exemplo, ao analisar a Zara, quase tudo o que vende é feito por terceiros. A Marisol ainda não trabalha dessa forma. Estamos começando a nos preocupar mais com o Varejo, estamos num processo de mudança. É para onde o mercado brasileiro deve caminhar. Eu faço o que tenho expertise e procuro outros parceiros para produzir outros produtos.

Que técnicas são fundamentais para destacar uma marca nesse setor em que existem tantas marcas e tantas empresas para os mais variados públicos, gostos e bolsos?

São muitos os detalhes. O primeiro é que a empresa tem de estar conectada com o produto. É preciso saber que existem os produtos permanentes, os de estação e os de moda. Com os de moda, as empresas se permitem sair do lugar comum e inovar. Aí, você pode trabalhar com assessoria de imprensa, desfiles, catálogos, editoriais de moda. Mas é preciso ter muito cuidado ao fazer o abastecimento das lojas. Não se pode colocar muitos produtos de moda no varejo. Pode virar encalhe e aquilo passa a não ser mais moda e perde valor. Há também o conceito de seguidores de moda, que consomem a moda rápida. A empresa precisa rapidamente identificar o que o consumidor quer, criar, produzir e lançar. Isso não pode demorar mais que duas ou três semanas. Essa também é uma tendência para onde as empresas estão caminhando.

O que se espera de quem está na sua posição, ou seja, diretor executivo?

A principal função é fazer a gestão do negócio como um todo. Este profissional deve atuar no Marketing, em Vendas, Produção, ou seja em todo o Varejo. Ele ultrapassa o ‘vender para o cliente’. Ele deve fazer o cliente vender. Aqui na empresa, pensamos em fazer o com que o cliente compre exatamente o que ele precisa. Para isso, temos que capacitar as lojas para que conheçam mais sobre o varejo e tenham o produto certo na hora certa.

O que é preciso para chegar nessa posição de diretor executivo?

É preciso muita dedicação. Ter um bom currículo não é suficiente. O currículo apenas te coloca para dentro da empresa, mas é a sua atitude que te mantém. Outro fato importante é que muitos profissionais fazem planos, mas poucos executam. Alem disso, é fundamental saber trabalhar em grupo e conseguir fazer com seus liderados tenham desejo de executar o que o executivo indicou. É preciso ser um bom líder. Outra coisa: sempre insisto que muitos profissionais acreditam que a sorte ajuda muito a crescer na carreira. Eu acredito que a pessoa se preparou e teve a oportunidade.

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